quarta-feira, novembro 22, 2006

Quero o livro de reclamações!

Vou voltar para a minha terra, se calhar por pouco tempo mas vou voltar.
Todos os lugares que foram meus, todas os ecos de palavras que hoje soam gastas, todos os passos, todos os rostos que continuam a ser os mesmos mas em formas e corpos diferentes, todos os cantos e recantos, ruelas e travessas, o lugar de estacionamento do meu carro de braços abertos, os sorrisos dos vizinhos do lado, o casal simpático da casa do fundo, a estranheza do primeiro sorriso de uma cara fechada de vários anos que me cumprimenta de forma afável e me faz um desconto na conta do almoço, a esplanada cheia de turistas, os malditos pombos, os amigos queridos de abraço sempre pronto e com aquele sorriso de saudades, os conhecidos do bom dia e boa tarde, o "tás bom ?" do barman do bar de tantas noites, o pára/arranca dos semáforos, as rotundas atrás de rotundas, os momentos que passaram e não ficaram, a música de fundo do hipermercado de tantos dias, o cheiro do pão quente, as filas para pagar na caixa, o cozinhar outra vez, as mãos a cheirar a especiarias e alho, as "cebolas lacrimejantes", a garrafa de vinho a respirar enquanto o "refogado" está em lume brando, o colocar a conversa em dia, o contar das misérias, o recordar dos momentos felizes e idiotices do passado, a má música em som demasiado alto ao sabor dos encontrões e empurrões de bares cheios de gente que agora não conheço, o voltar a casa, o dormir sem sono, o café depois de almoço, novamente só, a esplanada do quiosque do jardim público, uma mistura de saudade, de tristeza, de alguma raiva, de uma vontade de voltar, de uma vontade de dizer adeus de uma vez por todas e procurar começar de novo, longe, muito longe, longe de todas as raizes e de todas as recordações na forma dos mais diversos momentos e pessoas, mesmo as que me são queridas, longe de um eu que já não tem lugar ali, o fazer-me à estrada já depois do sol se esconder, aquela sensação de angústia mas também de alívio, aquela lágrima teimosa que acaba por nos fugir, o fumar aquele cigarro encostado ao paredão do mar naquela praia agora deserta, deambulando por mil pensamentos a consumir-me tão depressa como o cigarro que quase me queima os dedos, o voltar ao ponto de partida de há muito anos atrás e sentar-me à espera de algo que mude tudo de novo tal como mudou à 6 anos atrás...

Quero o livro de reclamações, pois exijo que me devolvam-me todo o meu tempo por favor, todos esses 6 anos, 72 meses, 2160 dias, 51840 horas ou os 3110400 minutos, podem escolher como me querem pagar mas, devolvam-me a mim mesmo, em qualquer outro príncipio de história...

4 comentários:

Anónimo disse...

às vezes os lugares de todos os dias, as pessoas de todas as conversas, os sons de tudo o que nos rodeia sempre, trazem-nos demasiadas memorias, demasiadas dores, lembranças que nao provocamos mas que nos atingem em demasia...
tb queria fugir, em dias assim. mas ha que puxar o nosso lado de teimosia, e manter-nos fortes... no sitio que afinal escolhemos e nos escolheu.
fica, parte, mas nao mudes :) porque e bom saber que aqui, num espaço seguro, posso ler-te.

Tania S.

Li disse...

AS PESSOAS PODEM MUDAR DE CAMISA, CIDADE OU ATÉ MESMO PLANETA PORQUE MUITAS PESSOAS SÃO DE MARTE MAS É CLARO VIERAM CÁ VER A BOLA AOS NOSSOS FAMOSOS ESTADIOS DO EURO.
ZÉ AS PESSOAS NÃO MUDAM DE PERSONALIDADE POR MUDAREM DE SITIO, E DESCANSA QUE NINGUÉM TE VAI DEVOLVER NEPIAS DOS TEUS 6 ANOS DE SERVIÇO AO ESTADO...SE CALHAR PODES ALEGAR QUE VIVES-TE ESTES ANOS DUMA FORMA DIFERENTE DOS RESTANTES SERES VIVOS, EU ACHO QUE É UMA EXPERIÊNCIA MUITO BOA APESAR DOS PRÓ E CONTRAS...VAIS SER SEMPRE O MESMO ZÉ DE ESTARREJA E ACREDITA QUE NINGUÉM TE VAI ESQUECER CÁ POR LISBOA E CLARO POR MARTE...AMIGO QUE É AMIGO NUNCA SE ESQUECE...NEM QUE SEJA SÓ PARA DAR UM FAMOSO TOQUE NO TELAS DE VEZ EM QUANDO

Anónimo disse...

Quem perde os seus bens, perde muito; quem perde um amigo, perde mais; mas quem perde a coragem, perde tudo. (Autor desconhecido)

Penso que não resolviamos nada se voltassemos atrás. Eventualmente, teriamos que passar por tudo de novo mas de forma diferente. Porque não pensar no presente e investir ao máximo no dia de hoje? Um dia de cada vez, cada dia um novo e inspirador dia...é o conselho sábio do Castor, um grande abraço amigo!

kimikkal disse...

:)

é uma fase estranha, a do regresso à terrinha após anos fora.

quando regressei em 2003 demorou um pouco a passarem as saudades.

mas o mundo é feito de mudança, onde se fecha uma porta aqui, abre-se outra ali. O importante é procurar e encontrar a melhor.

abraço e...bem vindo à terrinha! :P